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quarta-feira, 9 de março de 2011

Verdadeira viagem

Desde muito novo que me sinto atraído pelo desconhecido e pela novidade das coisas que me rodeiam. O quotidiano parece-me sempre insuficiente e não me canso de procurar novas formas de expandir os meus horizontes. Lembro-me que comecei a ler livros aos sete anos e nunca mais parei, pois a leitura ainda hoje me dá uma sensação de voo, como se abrir as páginas de um livro fosse o mesmo que abrir as asas e voar, mergulhando na infinita liberdade dos céus. As histórias, as viagens, o apelo do longe encantam-me pela sua magia, pela possibilidade de crescimento interior que me oferecem. A leitura e as viagens são formas de alimentar e deliciar uma mente inquieta e sonhadora. Embora cada leitura seja uma viagem, a viagem dos meus sonhos não foi apenas mental. Foi física. Uma viagem a sério, de mochila às costas e mapa na mão, como os estrangeiros fazem tão regularmente. Deixei-me de manias e, em vez de convidar a minha namorada para embarcarmos num cruzeiro romântico pelas terras das Mil e Uma Noites, desafiei-a para ir comigo num interrail pelos países do leste da Europa. No início, ela não gostou muito da ideia. Disse que não se imaginava a passar quinze dias com a mesma roupa, sem tomar um banho decente e sem dormir numa cama confortável. Não se imaginava com a cara por lavar nem com o cabelo mal penteado… Na verdade, eu imaginava isso tudo com muita facilidade e disse-lhe que era pegar ou largar. Desta vez, eu queria fazer algo diferente. Aquelas viagens que toda a gente faz já não me diziam nada. Faziam-me sentir como se andasse pelos corredores dum museu, a ver objectos dentro de vitrines. Visitar monumentos enjoava-me. Eu queria qualquer coisa mais profunda: ver como vivem as pessoas, viver como elas, comer como elas, respirar o mesmo ar que elas. Para minha surpresa, ela recusou. No início, não quis acreditar, mas cedo me convenci que era melhor ir sozinho. Fui e nunca me arrependerei. Perdi a namorada, mas ganhei o amor da minha vida, uma viajante solitária que viajava no mesmo comboio que eu. Despenteada, de cara encardida pela sujidade, a dormir em qualquer lado como uma vagabunda, mas linda e genuína na sua liberdade e simplicidade. De mãos dadas, misturámo-nos com as multidões e procurámos as nossas identidades mais secretas, partilhando a alegria e o assombro da descoberta.